"Quando tudo parece sem saída sempre se pode cantar. Por essa razão escrevo."
(Caio Fernando Abreu)
Sabe quando você consegue um emprego novo, ou quando começa a namorar, e sente aquela vontade de pegar o telefone e ligar para a a melhor amiga (ou amigo)? Ou então quando vai ao médico e ouve o coração do seu bebê bater pela primeira vez? Ou quando no mesmo dia consegue ver o bebê pelo ultrasom e saber finalmente se o que cresce dentro de você é um menino ou menina? Sabe? Eu não sei.
Mas não sinta pena de mim.
Podia usar como desculpa o fato de estar em Dublin há praticamente 2 anos e conhecer pouquíssimas pessoas. Mas não é verdade. Primeiro porque eu conheço sim pessoas de quem eu gosto e confio, e para quem eu poderia ter ligado. Segundo, que se você já é meu amigo há um certo tempo aposto que não consegue se lembrar de ter recebido um telefonema meu (ever). Isso porque além de desprovida da habilidade de me comunicar de qualquer forma que não seja por escrito, eu tenho um certo pavor de telefone. Me sinto até mal quando toca. Ligar para alguém, assim, sem nada específico (e importantíssimo para a outra pessoa) para falar, acho sinceramente que nunca fiz.
Engraçado é que quando criança eu falava pela boca e pelos cotovelos. Comecei cedo (por volta dos 7 ou 8 meses) e era do tipo que realmente incomodava as pessoas ao redor com tanto falatório. Pelo menos é o que dizem.
Depois, não sei obviamente identificar o momento exato em que isso aconteceu, virei a crianca nerd que eu fui. Ouvia os Beatles enquanto as meninas gostavam mesmo era do Menudo. E quando todo mundo sonhava em ir pra Disney eu queria conhecer a Inglaterra, pra visitar Liverpool e Londres (e principalmente a National Gallery de Londres). Eu brincava sozinha de "bibliotecária", e acredite eu lia a Barsa (afinal, nasci bem antes da Wikipedia)
Eu não me lembro muito bem de me sentir sozinha ou me isolar nessa época, mas não é difícil de se imaginar que eu não tinha muito em comum com as outras crianças.
Na adolescencia as coisas só "pioraram". O Radiohead virou minha banda preferida, eu lia Caio Fernando Abreu e Edgar Allan Poe, gostava de História, ia ao cinema no Espaço Unibanco, e passava boa parte do meu tempo livre lendo. Enquanto as amigas assistiam e comentavam o Disk MTV, eu assistia mesmo era o Lado B (que naquela época passava bem tarde da noite, praticamente de madrugada, aos domingos). Com o tempo o mundo das outras pessoas (pelo menos as que eu conhecia), e o que elas tinham a dizer, passou a não me interessar mais e vice-versa. E para me proteger, tinha sempre o walkman (mais tarde trocado por um walkman CD e anos depois pelo primeiro iPod) ligado e um livro na mão, no caso de alguém tentar puxar assunto comigo. Troquei o telefone pelos diários e segui minha vida.
E assim os anos se passaram. Mas todo mundo cresce e eu tambem cresci. Hoje, olhando de longe eu até pareço normal. Não tenho a mesma arrogância de anos atrás (ainda aparento ter, mas é timidez). O Radiohead continua dominando meu iPod, mas divide espaço com música pop de qualidade duvidosa. Caio Fernando Abreu ainda leio sempre, mas leio também a Cecilia Ahern e o Dan Brown. Assisto um monte de lixo na TV e sinto falta, quem diria, de assitir novela. E mais do que tudo, quando passo assim muito tempo quietinha sinto falta de gente. Quem disse que "ninguém é uma ilha" tinha razão.
Mas nem isso me fez mudar, ou melhor, criar o hábito de telefonar para as pessoas. E sabe de uma coisa? Tudo bem. Eu sou feliz assim.
O grande problema, e a razão de eu estar escrevendo sobre isso, é que na semana passada eu não consegui postar nada aqui no blog. Por duas razões: no trabalho uma correria insana, em casa sem computador. Aí fiquei meio louca, andava mais elétrica e estressada do que de costume, sem dormir bem e com uma sensacão ruim de que me faltava algo essencial.
Percebi assim meio que sem querer, que o blog é a minha válvula de escape. É o que me mantém com o mínimo de sanidade mental de que eu preciso. É o meu jeito de telefonar para todo mundo que eu gosto e contar minhas novidades, e de saber como anda a vida dos outros (de quem eu já aprendi a gostar) também.
E que falta incrível eu senti de tudo isso nessa última semana.
N.