Daí que na sexta-feira passada eu mandei um e-mail para I. dizendo que eu queria ir ao cinema.
Escolhi assistir The Social Network, do David Fincher, que conta a história de como Mark Zuckerberg ainda estudante universitário em Harvard cria o Facebook e, 6 anos e 500 milhões de usuários depois, se torna o bilionário mais jovem da história.
Não, não foi a história dele que me inspirou e me fez rever meus conceitos de vida. Caso você tenha visto o filme ou não, Mark Zuckerberg é mesmo um grande filho da puta (por quem eu não deixei de sentir certa simpatia durante o filme), o que meio que comprova minha teoria de que muito pouca gente enriquece as custas de bom caráter.
Mas então eu vou começar do início...
Uma parte de mim queria ter ido assistir Life As We Know It porque eu tenho uma grande tolerância com cinema meia- boca. Aí eu falo pra I. que quero ver, ele reclama um pouco, mas topa. Ele odeia o filme obviamente, e eu também sempre me arrependo e acho que foi dinheiro jogado fora. Para evitar isso quando eu já sei que o filme é ruim e mesmo assim eu quero ver (tipo Eat Pray Love) I. baixa pra mim no computador e eu assisto sozinha. E reclamo sozinha, sem gastar dinheiro.
Deixamos para ver no cinema só filmes que agradam a nós dois. Não é difícil pois eu quase sempre quero assistir tudo o que ele quer. E mesmo quando a princípio discordo da sugestão sou obrigada a mudar de opinião, quase sempre.
Dessa vez não foi diferente. Erroneamente achei que The Social Network era sobre o Facebook em si (quando no final das contas é sobre amizade, ambição e traição). Até fiquei pensando porque diabos o David Fincher ia querer dirigir um filme sobre o Facebook, mas I. comentou que queria assitir, A., amigo do Brasil disse o mesmo, e ambos disseram que era muito bom. Então eu resolvi dar-lhe uma chance.
Que bom. Que bom que eu tenho I. na minha vida para evitar que eu faça sempre as mesmas coisas.
Não íamos ao cinema há tempos. Há tanto tempo que eu tinha praticamente esquecido de como ir ao cinema me faz feliz. Durante os 5 primeiros minutos do filme não consegui parar de sorrir. E quando me dei conta disso me perguntei porque não fazemos isso com mais frequência?
Depois em casa, ainda ficamos um tempo conversando sobre o que tem acontecido com as nossas noites. I. concordou que com o início da gravidez entramos numa rotina de assistir a mesma coisa na TV toda noite (leia-se Friends) que o está cansando. Eu realmente passei muito tempo sem a menor energia para assistir um filme inteiro, ou até mesmo uma série de uma hora, depois do jantar sem cair no sono. Ir ao cinema? Preguiça só de pensar em sair de casa. Nem ler eu conseguia mais. Aí restava a TV.
Nós costumávamos assistir coisas novas o tempo todo, e conversar sobre elas. Falar de música, cinema, literatura e arte em geral era mais frequente do que falar sobre o jantar do dia seguinte, ou sobre as chatices do meu trabalhou ou do dele. Nós não íamos somente ao supermercado, mas às livrarias e museus da cidade.
Onde foi parar aquele casal de nerds?
E mais do que isso, o que aconteceu comigo? Me dei conta de que essa pessoa que eu estou sendo não sou eu. Nunca foi. Posso ter sim acumulado pela primeira vez na vida as rotinas de cuidar de uma casa (e me preparar para ser mãe), mas não preciso deixar de ser a pessoa que eu era. A que lia coisas interessentes e passava muito pouco tempo em frente as bobagens exibidas diariamente pela TV. A que conseguia ler 2 ou 3 livros ao mesmo tempo, o jornal inteiro pelo menos aos domingos, assisitir 3 filmes seguidos no cinema (saudades das Mostra de Cinema de São Paulo). Eu nem posso dizer que eu tenho menos tempo agora. Na época eu trabalhava em tempo integral, ia à faculdade à noite e estudava inglês aos sábados. Mesmo trabalhando 40 horas em sala de aula as coisas eram diferentes. Muito mais do que eu faço hoje. O que me definia era vontade de fazer, de ver, de conhecer, não tempo.
Eu não sou ingênua o bastante para achar que eu vou fazer isso (nem mesmo um quarto disso) depois que o babóg nascer. Se conseguirmos ir ao cinema duas vezes ao mês, vai ser muito, muito mesmo. Tempo para ler, claro vai faltar. Mas eu não quero ser a mãe que não tem assunto a não ser com outras mães. Que só sabe falar de marca de fralda e leite, mesmo com quem nem tem filhos ainda.
Eu não quero 500 milhões de “amigos” nem uma empresa avaliada em bilhões de dólares, mas o meu desafio pessoal é criar uma criança num ambiente com mais estímulos do que o que eu tive na vida. E com menos TV. E sem sacanear ninguém, de preferência.
Não pode ser tão difícil, né?
N.
Ps. The Social Netorwork é o melhor David Fincher desde The Fight Club.