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sexta-feira, abril 30, 2010

A quicky

Só para lembrar que comecei a escrever esse blog há exatos 4 anos atrás. Verdade, postei mais nos últimos 2 meses do que durante esses 4 anos, mas ainda assim, são 4 anos! Passei anos sumida, e tanta, tanta coisa mudou que ao ler aquele primeiro post, parece até outra vida. 

O dia hoje passou voando e fiz milhões de coisas. Espero I. agora para jantar (ele vai atrasar uma hora, e por isso estou postando), e então vamos ao cinema. O filme é Iron Man 2, obviamente escolha dele, mas que eu quero ver também (mesmo). 

Minhas malas (parece que eu vou ficar um mês fora) estão prontas, ou quase prontas. Vamos para Killarney amanhã de manhã, voltamos na segunda-feira, a tempo de aproveitar o restinho do Bank Holiday em casa. 

Levo um presentinho para C., já que dia 09 é dia das mães no Brasil. Fui "acusada" por I. de querer virar "a preferida" dela (nem dá porque sou a única nora), mas ele sabe que no fundo é para sentir um pouquinho menos as saudades da mãe que está no Brasil. Com um oceano de distância, é a mum que está na Irlanda que vai ganhar meu beijo. E ninguém melhor do que ela para entender o que é não ter a mãe oficial por perto. 

O post fica por aqui (era para ser quicky mesmo!) antes que eu comece a chorar.

Bom feriado para quem está no Brasil ou na Irlanda.

N

quinta-feira, abril 29, 2010

A brasileira sem ritmo e o irlandês perna-de-pau

Coloque os dois para fazer aulas de dança e o resultado é fácil de imaginar. Para quem me conhece, explicar como eu entrei nessa é tarefa um pouco mais difícil.

Ao aceitar casar eu perdi todos os parâmetros das coisas que "eu faço" e "não faço de jeito nenhum". Depois de fazer isso na igreja então é que eu percebi que eles haviam sido perdidos de vez, sem chance nenhuma de recuperação. 

Logo ao voltar para Dublin, conversando com I. num pub, sugeri que nós fizéssemos um curso de dança. Ele achou uma boa idéia. Eu devia estar bêbada. Ele, não me levou a sério. E não era sério mesmo. 

Depois disso comecei a procurar por um curso para passar o tempo. Me interessei por Francês, mas não houve procura suficiente para a abertura de uma turma. A de espanhol era muito básico. E várias das outras coisas pelas quais me interessei, só têm início no verão.

Aí vem minha sogra e sugere o curso de dança.  

Eu não danço. Não tenho nenhum ritmo ou coordenação motora para tanto. Quando criança morria de inveja das meninas (todas) que faziam "jazz". Eu nem sabia o que era jazz (nem sei até hoje), mas achava super chic não poder fazer o trabalho de escola hoje a tarde "porque eu tenho jazz". Mas era uma inveja boba, eu queria mesmo era estudar inglês. 

Falta talento, sobra vergonha-na-cara. Eu morro de medo de bancar a ridícula na frente dos outros. Odeio discurso, brincar de mímica e todas essas coisas que me colocam on the spot. Especialmente se for para fazer algo em que eu definitivamente não sou boa.  

Por isso mesmo as aulas de dança seriam o meu ultimate challenge. 

E ao mesmo tempo eu queria me expor. Queria tentar fazer alguma coisa totalmente not me. E queria fazer alguma coisa com I. Melhor ainda se fosse divertido e se a gente se exercitasse. 

Ontem a noite então, depois de quase um mês remoendo a idéia, lá fomos nós. Donnybrook, pertinho de casa, noite bonita, vamos caminhando. I. sugere parar num pub e deixar esse negócio de dança pra lá, mas eu não dou meu braço a torcer. E como foi combinado antes do casamento: "I'm the boss".

Escolhemos, ou melhor eu havia escolhido "salsa/latin dances". 6 semanas. Pago. Não dá mais para desistir. 

Começamos com Jive, que eu nem sabia ser "latino". Uma hora depois, eu estou suada, vermelha, exausta e feliz. Somos sem sombra de dúvida, o pior casal (6 ao todo) do grupo. E eu, contrariando todos os esteriótipos, sou ainda pior do que I., irlandês, descendente de vikings. 

Mas no final, ninguém deixou aquela sala se sentindo mais successful do que eu!  E pra comemorar, porque ainda estamos na Irlanda, terminamos a noite num pub.

N.

ps. Looking forward to next week!

quarta-feira, abril 28, 2010

Do que eu reclamo tanto mesmo?

I'm a moaner.  Reclamo se está quente, reclamo se está frio. Reclamo de ter muito o que fazer, e de não ter nada para fazer. No entanto os últimos dias têm sido tão bons que até eu tenho achado dificuldades em reclamar. 

Ou será que foi o contrário? Sim, foi o contrário: parei de reclamar e então, tive dias ótimos. Olha só como é bom escrever, acabo de perceber isso só agora ao colocar as coisas no papel na tela do computador.

Posso não ter emprego (e não estou acostumada com isso, é verdade), e ter que contar com o dinheiro de I., mas tenho tempo de sobra para fazer tanta coisa que assim que voltar a trabalhar vou sentir falta dos dias de ócio.

Vê só, na semana passada em plena quarta-feira passei boa parte da tarde com K. (que eu não conhecia até então) aproveitando o restinho de sol no St. Stephen's Green e batendo papo. E na sexta fui a Dun Laoghaire conhecer uma outra K. (a do ká.entre.nós), que muito fofa havia me convidado há alguns posts atrás. Almoçamos, conversamos e aproveitamos a manhã de sol. Na volta para casa, ainda consegui dar uma cochilada daquelas no meio da tarde e encontrar com meu marido para uma pint (ou uma West Coast Cooler pra mim). Sábado teve pizza e filme, e no domingo, encontro com as Meninas de Dublin. Quando cheguei em casa (mesmo farta de tanta besteira que eu comi), I. já tinha feito o jantar (que de tão bom foi reaproveitado na segunda, me deixando livre para não cozinhar).

No meio de tudo isso achei tempo para ler, escrever, cozinhar (um pouco), me exercitar (só 3 vezes por semana, por 40 minutos, mas já é alguma coisa), cuidar muito bem do meu apartamento (sim, eu gosto!!), assistir vários episódios de 24, House e Lost (e tenho ainda uma infinidade de outras séries e filmes me aguardando).

Ontem eu poderia ter reclamado um pouco do tempo, e do fato de ter ido ao Social Welfare Office para levar documentos que eles poderiam ter me pedido quando estive lá antes. Eu quase fiz isso, mas aí I. chega em casa com uma caixa grande para mim, da Amazon.  Quase tive um orgasmo. Livros. Vários. Novos. Coisas escolhidas para mim, por alguém que me conhece e sabe exatamente que livros não falham em me fazer um pouquinho mais feliz.

Aí perdi de novo toda a vontade de reclamar.

N.

p.s. Sabe que dia foi ontem? Trinta-feira. According to you-know-who.

terça-feira, abril 27, 2010

O português do meu Irlandês

Situação 1:
- Ai,  o meu cabelo! (com as mãos na cabeça)
- O que foi? O que tem o seu cabelo?
- Meu cabelo está doente.
- Quê?? (já morrendo de rir). Do you mean you have a headache?
- Sim.
- Hahahahahahaha

Situação 2:
(com a minha mãe no telefone no ano novo)
- Feliz Nove Anos!

Situação 3:
- Me dá um beijinho?
- Onde?
- Aqui, no meu pé (mostrando a mão)
- Hahahaha

Situação 4:
(falando com a minha mãe)
- Olha mãe, comprei chapéus novos!! (apontando para os chinelos que ele tinha acabado de comprar)

Situação 5:
(voltando do Cristo Redentor, no Rio)
- O que foi, você se queimou com o sol?
- Sim
- Onde, deixa eu ver?
- Nos meus orelhos.

Pelo menos ele está se esforçando para aprender, tenta, e sempre me faz rir muito.

N.

sexta-feira, abril 23, 2010

O Oscar e a Sandra Bullock.

Sim, eu sei que o Oscar já passou há meses e é assunto encerrado. Mas esse é um post pequeno sobre a minha indignação. Não que alguém se importe. Mas se eu não escrever, não sai da minha cabeça. E eu tenho infinitas outras coisas sem importância com as quais me preocupar e me ocupar.

Nem é com The Hurt Locker que eu ainda não acho que mereça um Oscar, apesar de bom.  Já que o roteiro sem-vergonha de Avatar também não tinha chance, que pelo menos District 9 fosse melhor premiado. Ou Up, que eu ainda acho foi o melhor filme do ano passado. 

Esse ano eu não assisti a cerimônia porque aqui na Irlanda, só por pay-per-view, e mesmo assim, muito tarde da noite. Mas quando soube que a Sandra Bullock tinha sido premiada achei a desgraça da noite. Preconceito meu, claro, que nem tinha visto o filme dela ainda. 

Só assisti a The Blind Side há algumas semanas atrás. O filme é péssimo, e a Sandra Bullock, realmente nada de especial. 

Tudo bem, se na última quarta-feira eu não tivesse finalmente assistido a An Education. Primeiramente, roteiro do Nick Hornby + The 60's + trilha sonora bacana  = um puta filme.  E depois, tem a menina inglesa, a Cary Mulligan, fantástica. Só ela vale o filme. 

E aí quem é que lembra da Sandra Bullock mesmo??? Cada uma.....

N.

ps. já que comecei a escrever sobre cinema: Green Zone é chato e se arrasta, Shutter Island tem um roteiro incrível e é bem desconcertante em algumas cenas (adorei) e Kick-Ass é o filme mais engraçado e moralmente incorreto dos últimos tempos (saí do cinema com dor na barriga de tanto rir).

quinta-feira, abril 22, 2010

A Tentativa

Eu tenho alguns poucos talentos. Entre eles não está o de fazer amigos facilmente. By the way, nem o de manter os que eu já tenho (tarefa que aliás eu deixei para eles).

Primeiro porque eu não tomo a iniciativa. Dificilmente vou puxar conversa com alguém. Eu fui extremamente boazinha comigo mesma ao escrever "dificilmente". A verdade é que eu NUNCA vou puxar assunto com alguém que não conheço (pessoalmente, a internet não conta!), ou a que tenha acabado de ser apresentada. Análises pseudo-psicológicas a parte, eu não sei como fazer isso. Pronto.

Segundo, que se você tentar puxar assunto comigo eu posso não dar a melhor das impressões. A primeira vista, eu devo admitir, sou antipática. Provavelmente, por ser um pouco tímida, eu passo por arrogante. Várias pessoas já me disseram isso, inclusive I., que também me achou "snobish" por boa parte do nosso primeiro encontro (segundo ele a sensação passou depois que eu finalmente tirei os óculos escuros, e ele acostumou com meu inglês "posh").  Enfim, com uma segunda chance, a tendência é eu melhorar. 

Terceiro, eu sou pouco paciente com certos comportamentos humanos. Algumas coisas me irritam muito, como falta de educação e burrice, por exemplo, e aí eu não faço mesmo a menor questão de disfarçar. Pelo contrário, eu faço uma cara impossível de passar desapercebida. 

Claro, existem exceções. Alguns dias eu eu estou particularmente falante. E sempre têm aquelas pessoas com quem eu tenho uma empatia quase instantânea. E apesar de tudo isso escrito anteriormente, quando eu gosto, eu gosto. 

Mas como eu já escrevi aqui antes, não conheço quase ninguém em Dublin agora, e não pretendo ficar reclamando sobre isso para o resto da vida. Tentei procurar por alguns cursos, mas a grande maioria tem início só em agosto. Em agosto minhas habilidades sociais que já são escassas vão estar atrofiadas por completo. 

Me resta então um orkontro. Explico. Há algum tempo me adicionei a uma comunidade do Orkut chamada Meninas de Dublin, um grupo de brasileiras morando aqui (ou com planos de chegar qualquer dia desses). Me interesso pouco ou nada pelos tópicos postados (um monte de gente tentando vender cigarro e pílula).  Todos os meses (ou quase todos não sei bem) elas marcam um encontro na casa de uma das meninas. Outro dia comentei com I. sobre isso e ele me disse que eu deveria ir. Tentei argumentar que eu jamais me sentira confortável entre montes de desconhecidas mas fui vencida pelo argumento maior de que eu não posso ter certeza, se não tentar. 

O fato é que nesse próximo domingo lá vou eu. Com brigadeiros e sem a menor intenção de fazer melhores amigos, mas de passar algumas horas em contato com pessoas.

Não pode dar muito errado, né?

N.

segunda-feira, abril 19, 2010

7 por 5

"Eu sempre imaginei que o paraíso deve ser algum tipo de biblioteca."
. Jorge Luis Borges . 


Eu sinto um prazer indescritível ao comprar livros. Quase comparado ao de lê-los, e infinitamente maior do que o de comprar sapatos. 

Quando decidi vir pra Dublin no ano passado vendi os meus. Eram uns 500 ou 600, talvez mais, entre literatura e História. Não foi fácil (chorei quando vi as prateleiras vazias), sabia que eventualmente me arrependeria (de fato), mas precisa ser feito. Um, porque eu tinha a sensação de que aquela vida já ficava pra trás. Dois, porque eu precisava de dinheiro para a viagem. 

Restaram alguns poucos. Alguns porque ainda não tinham sido lidos e ainda queria lê-los. Outros, porque com certeza vão ser lidos mais outras tantas vezes. E outros por razões sentimentais. Desses, alguns eu trouxe comigo esse ano, outros ainda aguardam na casa da minha mãe. 

Os que vieram moram numa pequena estante, aqui ao lado do computador, na sala do apartamento da Waterloo Rd. São vizinhos dos livros de I., que divide a paixão comigo, e dos livros que comprei aqui na Irlanda, não muitos, apesar de tão acessíveis. 

Faço listas mentais dos próximos a serem lidos (e comprados), mas elas mudam tanto quanto o tempo na Irlanda, que by the way, deve estar no "shuffle" (saí de casa hoje tremendo de frio e voltei suando com o casaco na mão)

No sábado terminei "1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil.", de Laurentino Gomes. 

Li uma resenha sobre ele quando estava no Brasil e achei interessante. Comprei. Aí me decepcionei um pouco por ele ser jornalista e não historiador. Ou seja, bem pesquisado e escrito, mas sem nenhuma análise histórica, ou novidade. Mas enfim, me distraiu por alguns dias. 

Ontem, querendo começar algo novo, me vi sem opções, mesmo com várias opções. Comecei "Deus, um delírio" (Richard Dawkins). Ou melhor recomecei, já que esse foi um dos que eu salvei da minha biblioteca porque ainda não tinha terminado de ler. Ainda estou lendo, mas preciso de algo light para minhas noites, antes de dormir. Sabe como eu sou, "penso, logo não durmo", então preciso de alguma coisa bem silly só para relaxar. O que for mais denso, eu guardo para minhas tardes de ócio produtivo. 

Tinha a opção de ler os vários da Agatha Christie que eu ganhei de Natal (e outros que andei comprando), mas já li dois na sequência e queria variar um pouquinho. Tinha também o novo da autora de "The Time Traveler's Wife", que eu também ganhei de Natal, mas que estou guardando para uma outra hora (que eu ainda não sei qual). E tinha também... Tinha vários. 

Aí, eu que normalmente não gosto de literatura de menina (ou chick-lit, como você preferir) me vi terminando a noite com "Sushi for beginners" da Marian Keyes. Que em minha defesa, eu não comprei. C. me deu, depois que leu, e eu fiquei com dó de jogar fora. 

I. sugeriu que eu comprasse novos livros (já que estava reclamando que não tinha o que ler), mas eu prometi a mim mesma que vou terminar os que tenho (e que não são muitos) antes de comprar qualquer outro. 

Quer saber quanto tempo eu vou levar para quebrar a promessa? Bom, já quebrei. Mas foi praticamente impossível resistir. Eu conto como. 

Primeiro preciso contar que eu quero todos os livros da Agatha Christie. Porque eu adoro ler Agatha Christie e também porque as capas são lindas (eu sei, eu sei)! E porque eles custam baratinho aqui também, oito euros e pouco cada um. 

Enfim, estava eu hoje andando pela Grafton (indo ao escritório da imigração solicitar um documento), quando vi na vitrine de uma livraria uma caixinha com 7 livros da Agatha Christie (Seven Deadly Sins - Seven Motives for Murderer), por, suprise, surprise, 5 euros!! Dos 7 livros, só um eu já tinha. O preço original da embalagem (que está lacrada, é novinha) é de 40 libras. 

Falhei, mas voltei pra minha casa feliz da vida com meus livros novos. 

N



p.s. ter ido a imigração não adiantou nada, mas who cares?

sexta-feira, abril 16, 2010

Para Inglês Ver



Eu quis casar no Brasil. I. não reclamou, mesmo sabendo que a maior parte da família não poderia viajar para tão longe, especialmente com tão pouco tempo de antecedência. 

Os únicos que conseguiram estar lá foram meus sogros T. e C., e meu cunhado N. com sua namorada D. Para mim não foi de todo ruim porque pude convidar o dobro de casais de padrinhos. 

No dia do casamento me disseram que também haveria uma pequena festa em Killarney, no mesmo horário, para o resto da família e amigos que não embarcaram. Duas garrafas de champanhe, "vestidas" de noivos simbolizaram minha presença e a de I. As mesas tinham "plaquinhas" com os nomes dos convidados, e todos se vestiram a caráter. Eu tinha visto algumas fotos, mas só ontem recebi essa aí de cima, do bolo. O bolo do meu casamento, que eu não vi. 

A família brasileira comemorou, a irlandesa também, ao seu jeito. Suficiente, né? Não. E os ingleses? Os ingleses só viram as fotos e também querem festa. 

Os ingleses são toda a família de I. por parte de mãe, que moram em Manchester e arredores. Pessoalmente eu só conheço a avó. Os outros, aparentemente eu vou conhecer na minha segunda cerimônia de casamento. A se realizar na igreja local de Killarney no dia 24 de Julho de 2010. Após a cerimônia (de 'blessing', uma vez que nós já somos casados na igreja católica) os noivos receberão os convidados na casa da sogra (a minha, no caso). 

Quem está organizando tudo? Eu, que não, óbvio. Minha sogra ofereceu a casa, que é linda e enorme (com um jardim que me mata de inveja) para que I. não tivesse mais gastos, coitado. Ela mesmo conversou com o padre e reservou a igreja, e a data. E foi a França, de carro com meu sogro, para comprar caixas de champanhe e vinho). Também me 'pediu' se poderia fazer o bolo, ela mesma. 

E isso é tudo o que eu sei. Agora mesmo mandei um email perguntando a ela se gostaria que eu ajudasse em alguma coisa. Secretamente torcendo para que ela diga que não. 

Agora você me responde, que lado da família é que é "latino" mesmo??

N.

quinta-feira, abril 15, 2010

Por que eu sou cada vez mais um pouquinho daqui


* Na janela da minha casa não tem uma bandeira do Brasil.


* Eu sei a pronúncia correta de Dun Laoghaire e Portlaoise. E de Siobhan (e sei também que é um nome de menina!). Sei Saoirse também, se bem que esse agora muita gente sabe porque ela está no último filme do Peter Jackson, que por sinal é muito bom, mas não é o assunto do post. 

* Eu já não uso duas calças, nem no inverno.

* Eu acho mesmo mais higiênico jogar o papel higiênico na privada, não no cestinho do banheiro. Até já me acostumei com o interruptor do lado de fora.

* Como eu já disse antes, eu tomo chá com leite. 

* No Natal já substituí o panettone e as rabanadas por Christmas Pudding e Mince Pies. E adoro Hot Cross Buns na Páscoa.

* Café da manhã com sausages, tomatos, eggs, beans, bacon, white and black pudding and toast já não me enoja mais. Não é minha escolha de todos os dias (nem a de ninguém eu acho), mas de vez em quando é só o que eu quero.

* Eu não deixo de sair porque está chovendo. E já nem ligo mais se vai molhar o cabelo ou se vou ter que ficar carregando o guarda-chuva molhado. As vezes nem abro o guarda-chuva.

* Sanduíche para o almoço? Tudo bem. 

* Ir ao supermercado e ter que levar minhas próprias sacolas, tudo bem também.

* Quando tem sol, eu quero correr para um parque e me jogar na grama. 

* Eu corto caminho para não andar na Grafton, com todo aquele bando de turista, no fim-de-semana.

* Eu não tenho uma foto com a Molly Malone.

* Eu caminho. Não ando de ônibus há meses. Mas começo a achar tudo meio "longe".

* Eu sei que os Cliffs of Moher não ficam em Galway, mas em Clare.

* Eu já entendo um pouco, e gosto, de Rugby.

E sei que aqui é minha casa agora.

N


terça-feira, abril 13, 2010

Híbrida

"Quem diria que viver ia dar nisso."
. Caio Fernando Abreu. 

Eu escrevi ontem que estou ficando cada vez mais brasileira e menos brasileira ao mesmo tempo. Também me sinto cada vez menos estrangeira, mas nunca vou ser irlandesa. Ou seja, eu sou metade e metade.

Acabei chegando a conclusão, depois de falar ao telefone com a minha sogra (não sobre isso), de que vai sempre ser um pouco assim. 

O sotaque inglês ainda denuncia que mesmo depois de 32 anos na Irlanda, ela não é daqui. Depois de 32 anos ela ainda chama o 26 de Dezembro de 'Boxing Day' (para os irlandeses esse é o 'St. Stephen's Day'). E tem mais umas "inglesices" aí que eu não lembro agora. E olha que além de a língua ser a mesma, a diferença cultural é muito menor entre ingleses e irlandeses. 

Mas o blog é meu, então o post é sobre as minhas "brasileirices". Eu ainda sou brasileira porque:

Eu ouço música brasileira (mais do que ouvia quando morava no Brasil). Basicamente as mesmas coisas que eu já escutava (Flávio Venturini, Chico Buarque, Milton Nascimento, Tom Jobim, Elis Regina), mas com mais frequência. Acho que é a falta de falar/ouvir português. Não conheço brasileiros aqui, e as conversas com minha mãe no telefonem se resumem a:
- Oi filha, tudo bem? Saudades de você.
- Saudades também mãe. Como estão as coisas aí?
- Tudo bem. E vc?
- Estou bem, mãe.
- Manda um beijo pro I.
- Mando sim, mãe. Beijo.
- Tchau.
- Tchau.

Eu escrevo em Português. Não é mais fácil, mas de novo é vontade de manter contato com a minha língua materna. 

Eu sinto falta de novela e de assistir a Globo as vezes. Não, eu não me orgulho disso. (e eu sei que tem crase, mas não sei acentuar direito com o mac!!)

No meu armário da cozinha tem café pilão, bis, bolo de fubá e bolacha de maizena. E eu sempre dou uma passadinha na lojinha brasileira perto da Grafton, só para ver se tem alguma coisa "diferente" para eu comprar. 

Na minha estante tem Machado de Assis e Caio Fernando Abreu. Na verdade sempre teve, mas sinto mais necessidade de literatura brasileira. 

Eu tenho saudade de cinema nacional.

Eu chorei quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas. E eu nem sou carioca. E eu quero estar no Brasil para a Copa do Mundo de 2014.

Eu quis, por escolha própria, passar minha lua-de-mel no Brasil (mas odiei Búzios).

Eu tiro a cutícula. 

Eu queira que minha cozinha (e banheiro) tivesse um ralo.

Os porquês de ser menos estrangeira ficam para o próximo post.

N

segunda-feira, abril 12, 2010

O que conta

I will hold you for as long as you like
I'll hold you for the rest of my life

(Paul McCartney)


Hoje são dois aniversários. Dois meses de casamento, e dez meses desde que I e eu nos conhecemos. Pra você que não sabia ainda, ou não sabe fazer conta, eu me casei com um homem que conhecia só há 8 meses, sim. E apesar do que muita gente acha, nem foi pelo passaporte. Mas enfim, o que os outros pensam realmente não me importa.  

Na verdade, acho que o que mais surpreendeu as pessoas (pelo menos as com quem eu me importo) foi o fato de eu casar, em si. Eu, que nunca quis casar. Que sempre achou casamento um das coisas mais bregas do mundo, junto com 'invisible bra' e mulher velha com cabelo comprido. O mundo dá voltas. 

Eu tinha me esquecido da data. I. também. Só depois que ele saiu de casa para o trabalho é que eu recebi uma mensagem de texto dele, que provavelmente tinha acabado de perceber que dia é hoje. 

E depois minha mãe ligou para nos dar os parabéns. Logo minha mãe, que nunca pareceu se importar com datas. Saudades muito grandes da minha mãe. De ter minha mãe por perto. E olha aí de novo, o mundo dando suas voltas. 

Mais do que isso, estou com muita saudades dos meus amigos, e de ter amigos. Eu não conheço ninguém aqui em Dublin, agora. A não ser as pessoas que eu conheço através de I., mas aí não conta!  Eu, que sempre me dei muito bem comigo mesma, me vejo agora querendo companhia. Quem diria, hein?

Em que momento será que eu mudei? Não foi quando eu casei. Não foi quando fiquei noiva. Não foi quando comecei a namorar com I. Não foi quando nos conhecemos. Não foi quando vim para Dublin. Não foi com a segunda depressão. Não foi com a Cultura Inglesa. Não foi com o CNA. Não foi quando virei professora. Não foi com a primeira depressão. Ou com a faculdade. Ou com... Não, mas deve ter sido um pouquinho com cada uma dessas coisas. Tão pouquinho que nem dá para perceber. 

O fato é que eu falho insistentemente a cada vez que tento entender exatamente quando a menina que brincava com as escovas de dentes virou a mulher que toma chá-com-leite. Ou como eu consigo ficar cada vez mais brasileira, e menos brasileira ao mesmo tempo.

Mas quer saber mesmo? Estou feliz, e se eu ainda sei certo, é isso que conta, lá no final das contas, né?

N.

sexta-feira, abril 09, 2010

Só mais uma sexta-feira

"Tenho dias lindos, mesmo quietinhos" Caio Fernando Abreu

Acordei cedo. Com I., como tenho feito desde que voltamos para Dublin. O dia estava lindo, e o sol já brilhava pela janela da cozinha enquanto fazia café. Mesmo assim só saí de casa para ir ao Tesco.

Fui ao centro praticamente todos os dias dessa semana (revenue, social welfare office, bla, bla, bla) e quis passar a sexta no meu apartamento. Quietinha. 

Tirei as cutículas e lixei as unhas da mão. Não pintei para não estragá-las quando lavar a louça do jantar. Depois adiantei todo o jantar e fiz uma sobremesa (minha receita nova da semana, pavê de chocolate e limão). Assisti um pouco de TV enquanto almoçava (o resto da sopa de ontem).

Depois tomei um banho bem quente e coloquei roupas limpas e confortáveis. Me ajeitei no sofá com uma xícara de chá e assisti o último capítulo da quinta temporada de Lost. A partir de hoje ainda posso assistir com I., a nova e última temporada finalmente.

Procurei cursos noturnos online. Meio que desisti do francês ou espanhol, ou melhor, não me sobraram muitas opções. Tenho outra idéia agora, mas tenho que falar com I. quando ele chegar. 

E assim a vida segue.

N




quarta-feira, abril 07, 2010

A Copa do Mundo e o DESorgulho de ser brasileiro

Os brasileiros falam alto. ALTO. Devo ter ouvido isso a primeira vez numa aula da Cultura Inglesa, eu acho. Mas notei por conta própria mesmo ao trocar a tecla sap da TV para ver a programação em inglês. A diferença de volume entre as duas linguas é gritante.

Andando pelo centro de Dublin, principalmente em direção a O'Connell Street, na zona norte da cidade, você vai sempre ouvir muito português. Não é só sinal de que tem brasileiro de monte vivendo aqui, afinal tem muitas outras nacionalidades também. No entanto, você ouve muito menos inglês, ou polonês, porque os brasileiros falando sempre chamam muito a atenção.

Achava que era só eu que notava isso, mas outro dia conversando com I., ele concordou. E na Embaixada do Brasil aqui em Dublin, por exemplo, tem até um aviso de que entre outras coisas, é proibido falar alto. 

Eu falo alto também, não me excluo, principalmente porque sou meio surda (todos aqueles anos com um fone de ouvido quase em tempo integral, tanto que minha mãe avisou!). Mas quando falo inglês tento, pelo menos, soar um pouco menos "estrangeira". Não porque eu não quero soar brasileira, ou ser reconhecida como uma (mesmo porque isso seria impossível). Simplesmente pelo fato de que eu sempre quis que meu inglês fosse o melhor possível. Depois de anos de estudo, e agora vivendo e falando inglês em tempo integral, não sobra muita coisa para aperfeiçoar, a não ser rhythm and intonation. Eu adoro ser reconhecida como brasileira, por inúmeras razões, mas não pelo inglês que eu falo. 

Enfim, nem é sobre isso que eu quero escrever, mas eu chego lá...

No domingo de Páscoa, I. e eu fomos ver a Copa do Mundo. O troféu, que está em turnê pelo mundo, estava exposto em Dublin, num evento patrocinado pela Coca-Cola. 

A fila na Dawson Street estava relativamente grande, mas o dia estava lindo e não nos importamos de esperar. Nem demorou muito. Na entrada você passa por uma espécie de corredor com fotos de todos os capitães que ergueram a taça. Depois vem uma sala, com mais fotos, imagens e rankings. E na sequência vêm uma sala com a história da Irlanda na Copa. 

Antes de se formar uma fila para tirar uma foto com a taça (a minha está aí no final do post), você passa por uma sala com um telão e recebe um par óculos 3D, para a exibição de um pequeno filme, de cerca de 6 minutos. 

A sala é escurecida e os efeitos são bem legais. Todo mundo está em silêncio. Até que, do outro lado da sala, um grupo de pessoas começa a falar ininterruptamente, e alto. E em bom português. Me irrito profundamente com o fato de ter que compartilhar de opiniões que eu não quero ouvir!! Eu quero assistir ao filme, em silêncio, como todas as outras pessoas naquela sala (nem as muitas e muitas crianças estavam falando). I. me cutuca e sussurra no meu ouvido: "são brasileiros". Sim, I. São brasileiros, sim, infelizmente.

N



quinta-feira, abril 01, 2010

Invictus

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
(William Ernest Henley)





Assisti "Invictus" ontem, sem saber muito a respeito. A não ser que era sobre Nelson Mandela e dirigido pelo Clint Eastwood. E que, consequentemente, me faria chorar.

Eu sempre gosto de Clint Eastwood, mesmo quando ele é meio brega, ou quando apela para esteriótipos, o que acontece as vezes. Ainda assim, ele consegue ser um dos (se não o) melhor diretor de cinema da atualidade. 

Ao invés de um filme sobre Mandela, Eastwood optou por contar uma pequena parte dessa história. Ou melhor, de adaptar um livro que conta essa história. A de como, brilhantemente, Mandela (recentemente então eleito presidente da Africa do Sul) se utilizou do esporte (o Rugby, que era até então um esporte de brancos exclusivamente), para reconstruir uma nação ainda dilacertada pelo ódio racial. 

Não faltam clichês para mostrar como brancos e negros se juntaram naquela final de copa do mundo (disputada na Africa do Sul) para torcer. Também não deve ter sido muito convincente para os sul-africanos o sotaque fake de Morgan Freeman (que eu consegui entender, sem legendas, o que significa que não era assim tão sul-africano). Mas Matt Damon convence no papel de capitão da seleção, e mais uma vez Eastwood me emocionou, e sim, chorei.

Up-lifting é o adjetivo que estou tentando, em vão, encontrar em português para descrever o sentimento que vem com os letreiros ao final. 

E mais do que isso, o poema que dá nome ao filme, e que teria ajudado Mandela a "se manter de pé quando ele só pensava em não se levantar" e assim sobreviver a 30 anos de prisão, é lindíssimo.

Achei que merecia um post. 

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