"Eu sempre imaginei que o paraíso deve ser algum tipo de biblioteca."
. Jorge Luis Borges .
Eu sinto um prazer indescritível ao comprar livros. Quase comparado ao de lê-los, e infinitamente maior do que o de comprar sapatos.
Quando decidi vir pra Dublin no ano passado vendi os meus. Eram uns 500 ou 600, talvez mais, entre literatura e História. Não foi fácil (chorei quando vi as prateleiras vazias), sabia que eventualmente me arrependeria (de fato), mas precisa ser feito. Um, porque eu tinha a sensação de que aquela vida já ficava pra trás. Dois, porque eu precisava de dinheiro para a viagem.
Restaram alguns poucos. Alguns porque ainda não tinham sido lidos e ainda queria lê-los. Outros, porque com certeza vão ser lidos mais outras tantas vezes. E outros por razões sentimentais. Desses, alguns eu trouxe comigo esse ano, outros ainda aguardam na casa da minha mãe.
Os que vieram moram numa pequena estante, aqui ao lado do computador, na sala do apartamento da Waterloo Rd. São vizinhos dos livros de I., que divide a paixão comigo, e dos livros que comprei aqui na Irlanda, não muitos, apesar de tão acessíveis.
Faço listas mentais dos próximos a serem lidos (e comprados), mas elas mudam tanto quanto o tempo na Irlanda, que by the way, deve estar no "shuffle" (saí de casa hoje tremendo de frio e voltei suando com o casaco na mão)
No sábado terminei "1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil.", de Laurentino Gomes.
Li uma resenha sobre ele quando estava no Brasil e achei interessante. Comprei. Aí me decepcionei um pouco por ele ser jornalista e não historiador. Ou seja, bem pesquisado e escrito, mas sem nenhuma análise histórica, ou novidade. Mas enfim, me distraiu por alguns dias.
Ontem, querendo começar algo novo, me vi sem opções, mesmo com várias opções. Comecei "Deus, um delírio" (Richard Dawkins). Ou melhor recomecei, já que esse foi um dos que eu salvei da minha biblioteca porque ainda não tinha terminado de ler. Ainda estou lendo, mas preciso de algo light para minhas noites, antes de dormir. Sabe como eu sou, "penso, logo não durmo", então preciso de alguma coisa bem silly só para relaxar. O que for mais denso, eu guardo para minhas tardes de ócio produtivo.
Tinha a opção de ler os vários da Agatha Christie que eu ganhei de Natal (e outros que andei comprando), mas já li dois na sequência e queria variar um pouquinho. Tinha também o novo da autora de "The Time Traveler's Wife", que eu também ganhei de Natal, mas que estou guardando para uma outra hora (que eu ainda não sei qual). E tinha também... Tinha vários.
Aí, eu que normalmente não gosto de literatura de menina (ou chick-lit, como você preferir) me vi terminando a noite com "Sushi for beginners" da Marian Keyes. Que em minha defesa, eu não comprei. C. me deu, depois que leu, e eu fiquei com dó de jogar fora.
I. sugeriu que eu comprasse novos livros (já que estava reclamando que não tinha o que ler), mas eu prometi a mim mesma que vou terminar os que tenho (e que não são muitos) antes de comprar qualquer outro.
Quer saber quanto tempo eu vou levar para quebrar a promessa? Bom, já quebrei. Mas foi praticamente impossível resistir. Eu conto como.
Primeiro preciso contar que eu quero todos os livros da Agatha Christie. Porque eu adoro ler Agatha Christie e também porque as capas são lindas (eu sei, eu sei)! E porque eles custam baratinho aqui também, oito euros e pouco cada um.
Enfim, estava eu hoje andando pela Grafton (indo ao escritório da imigração solicitar um documento), quando vi na vitrine de uma livraria uma caixinha com 7 livros da Agatha Christie (Seven Deadly Sins - Seven Motives for Murderer), por, suprise, surprise, 5 euros!! Dos 7 livros, só um eu já tinha. O preço original da embalagem (que está lacrada, é novinha) é de 40 libras.
Falhei, mas voltei pra minha casa feliz da vida com meus livros novos.
N
p.s. ter ido a imigração não adiantou nada, mas who cares?