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quinta-feira, dezembro 31, 2009

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, dezembro 23, 2009

O dia em que eu ganhei um Beatle de Natal


Good Evening Europe Tour
Paul McCartney - The O2 Dublin  - 20 de Dezembro de 2009












Domingo, 16h00. 4 horas antes do horário marcado para o início do show. Meu coração parece estar parado no meio da minha garganta. Já não consigo mais inventar nada para fazer para o tempo passar depressa. Vou me arrumar. Maquiagem nos olhos? Hmmm.... Melhor não. Eu choro com os vídeos da turnê no youtube. Não vou arriscar terminar a noite com cara de urso panda. 


17h00. Estou pronta para sair, conforme combinamos. I. ainda quer passar no Tesco e comprar cerveja. Sento no sofá e espero ele voltar. 


Agora sim, tudo pronto. Saimos de casa. Frio, frio, frio... em dez minutos caminhando pela Baggot St. eu já não sinto mais os dedos da mão (sim, estou de luvas!). I. quer pegar um táxi. Insisto em ir andando, quero ver o centro decorado para o Natal. A Grafton ainda está lotada de gente fazendo compras. Ainda é cedo (temos que estar no Clarion hotel as 19h45 só), e a intenção é beber alguma coisa antes de ir pra lá. Paramos numa feirinha de Natal (12 days of Christmas) e comemos um hot dog, depois num bar/restaurante. I toma seu pint de Heinneken como de costume, eu Bulmmers Pear. 


19h45. Chegamos ao Clarion, sala vip no primeiro andar. Poucas pessoas, quase todos mas velhos do que nós. O DVD Good Evening New York City toca num telão. Tomo uma dose de Baileys para esquentar (literalmente). Me pergunto se também é a primeira vez daquelas pessoas. Provavelmente não. Mas é a minha primeira, e talvez última, de ver aquele que escreveu as músicas que eu mais amo. Olho o telão e quase choro ouvindo Hey Jude. Parece uma bobagem enorme, mas eu costuma ouvi-lá quando estava triste e ela fazia com que eu acreditasse que tudo ia ficar bem. 


19h30. Entramos no micro-ônibus que nos levará ao The O2, há cerca de 5 minutos de distância. Entramos, procuramos nossos lugares e esperamos. Esperei tantos anos, alguns minutos não vão fazer muita diferença.


8h e alguma coisa. As luzes se apagam. Ele entra no palco. Terno preto, camisa branca. O Beatle. O mais doce e poético dos Beatles. O meu Beatle preferido. Eu choro. Estou prestes a ouvir ao vivo, algumas das melhores músicas de todos os tempos. 


Em quase 3 horas de show é isso o que acontece, uma após a outra, aquelas canções que fizeram e fazem parte da minha vida se materializam. Sem firulas, sem efeitos especiais (com exceção de Live And Let Die). Somente ele e uma boa banda. 


Paul é carismático. Mesmo com as mesmas histórias e piadas usadas todas as noites da turnê ele agrada. Quando ele fala me dou conta de que ele é real, e está ali, há poucos metros de mim e também choro. 


Seguem homenagens a John (com a belíssima Here Today) e a George (uma versão linda de Something), umas frases em irlandês e uma menção ao Natal que se aproxima, com a canção Wonderful Christmas Time, e o show termina com a melhor frase da história da música pop. 


Vamos embora pra casa com a certeza de que eu acabo de ganhar o melhor presente de Natal de todos os tempos.


"And in the end, the love you take is equal to the love you make"


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Dublin Set List
01. Magical Mystery Tour
02. Drive my car
03. Jet
04. Only Mama Knows
05. Flaming Pie
06. Got to get you into my life
07. Let me roll it/ Foxy Lady
08. Highway
09. Long and Winding Road
10. I want to come home
11. My Love   (with shoutout to Henry McCullough)
12. Blackbird
13. Here Today
14. Dance Tonight
15. And I Love Her
16. Eleanor Rigby
17. false start of Leaning on a Lampost and then Something
18. Mrs Vandebilt  (with a slower intro)
19. Sing the Changes
20. Wonderful Christmas Time
21. Band on the runL
23. Back in the USSR
24. I've got a feeling
25. Paperback Writer
26. A Day in the Life into Give Peace a Chance
27. Let it Be
28. Live and Let Die
29. Hey Jude


Encore #1
30. Daytripper
31. Lady Madonna
32. Get Back


Encore #2
33. Yesterday
34. Helter Skelter
35. Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band (reprise)/ The End